sábado, 30 de abril de 2011

O seu corpo - essa casa onde você não mora

        Neste instante, esteja você onde estiver, há uma casa com o seu nome. Você é o único proprietário, mas faz tempo que perdeu as chaves. Por isso, fica de fora só vendo a fachada. Não chega a morar nela. Essa casa, teto que abriga suas mais recônditas e reprimidas lembranças, é o seu corpo.
“Se as paredes ouvissem...”
       Na casa que é o seu corpo, elas ouvem. As paredes que ouviram e nada esqueceram são os músculos. Na rigidez, crispação, fraqueza e dores dos músculos das costas, pescoço, diafragma, coração e também do rosto e do sexo, está escrita toda a sua história, do nascimento até hoje. Sem perceber, desde os primeiros meses de vida, você reagiu a pressões familiares, sociais, morais. “Ande assim. Não se mexa. Tire a mão daí. Fique quieto. Faça alguma coisa. Vá depressa.
      Aonde vai você com tanta pressa? Atrapalhado, você dobrou-se como pode. Para conformar-se, você se deformou. Seu corpo de verdade – harmonioso, dinâmico e feliz por natureza foi sendo substituído por um corpo estranho que você aceita com dificuldade, que no fundo você rejeita.”
     
        Ser é nascer continuamente. Mas quantos se deixam morrer pouco a pouco, enquanto vão se integrando perfeitamente às estruturas da vida contemporânea, até perderem a vida, pois se perdem de vista?
imagem: inmetra.files.wordpress.com/2010/05/alongamento.jpg

           Você pode, no entanto, reencontrar as chaves do seu corpo, tomar posse dele, habitá-lo enfim e nele encontrar a vitalidade, saúde e autonomia que lhe são próprias.
    
      Nosso corpo somos nós. É nossa única realidade perceptível. Não se opõe à nossa inteligência, sentimentos, alma. Ele os inclui e dá-lhes abrigo. Por isso tomar consciência do próprio corpo é ter acesso ao ser inteiro, pois, corpo e espírito, psíquico e físico, e até força e fraqueza, representam não a dualidade do ser, mas a sua unidade.
       Nesta perspectiva os movimentos nascem de dentro do corpo; não são impostos de fora. Não têm nada de místico ou misterioso. Têm por finalidade não que você escape a seu corpo, mas sim, que seu corpo não continue a escapar-lhe junto com a vida.
       Até agora esses movimentos eram definidos por aquilo que eles não são: exercícios, ginástica. Mas que palavras conseguirão fazer entender que o corpo de um ser e sua vida são a mesma coisa e que ele só poderá viver plenamente a vida se, previamente tiver conseguido despertar as zonas mortas de seu corpo?
        Você poderá deixar cair máscaras, disfarces, poses, o “faz de conta” e passar a ser, a ter coragem de ser autêntico.
        Você pode livrar-se de uma infinidade de males – insônia, constipação, distúrbios digestivos – fazendo com que trabalhem para você, e não contra você, músculos que até agora você nem sabe onde ficam.
        Você pode despertar seus cinco sentidos, aguçar suas percepções, ter e saber projetar uma imagem de si mesmo que o satisfaça a que lhe mereça respeito.
        Você pode afirmar sua individualidade, reencontrar sua capacidade de iniciativa, a confiança em si mesma.
        Você pode melhorar sua capacidade intelectual melhorando antes de tudo os impulsos nervosos entre o cérebro e músculos.
        Você pode desaprender os maus hábitos que o levam a favorecer e, por conseguinte, a hiper desenvolver e deformar certos músculos; romper os automatismos dos seus movimentos e descobrir-lhes a eficácia e espontaneidade.
              Em qualquer idade você pode livrar-se das pressões que cercam sua vida interior e seu comportamento corporal, conseguindo perceber o ser belo, bem feito, autêntico, que você é.

Texto adaptado do livro “O Corpo Tem Suas Razões: Antiginástica e Consciência de si”. Thérése Bertherat

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