terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

As compensações do corpo e o RPG (reeducação postural global)


A fisioterapeuta francesa Françoise Mézières na década de 40, diante de uma paciente que se apresentava com uma cifose torácica acentuada, observou-a assentada e tentou abrir os seus ombros para desfazer a cifose, mas apareceu uma lordose lombar. Observou-a deitada voltada para o teto e, manualmente, abriu os seus ombros e lá estava uma hiperlordose lombar. Para fazê-la desaparecer, flexionou, então, as coxas contra o abdômen e apareceu uma hiperlordose cervical. 
Tentou desfazê-la, mas as costelas se elevaram e criou-se um bloqueio respiratório na inspiração. “Ao tornar menos acentuada a curvatura de um segmento, simplesmente deslocamos essa curvatura para outro segmento”, conclui Mézières. Ela refez a experiência com outros pacientes e observou o mesmo fenômeno.

Criou, assim, a base de sua teoria: os músculos posteriores formam um sistema de cadeias e funcionam como um só músculo; esses músculos são muito curtos e tensos; haverá oposição ao encurtamento dos músculos provocando flexões e rotações da coluna e membros; qualquer alongamento segmentar provocará uma compensação em outra parte da cadeia; todo alongamento ou esforço implica instantaneamente um bloqueio respiratório na inspiração.


Desvios posturais devem ser tratados visando às abordagens das cadeias para se corrigirem as compensações. A partir do sintoma, investiga-se a sua origem. Do ponto de vista global do corpo, conhecendo-se as cadeias musculares, criam-se condições de encontrar o motivo primário ou causal da lesão que levou a uma série de compensações e comprometem a boa postura aparada pela musculatura estática.

Dessa forma, o RPG tem como objetivo atuar neste conjunto de cadeias musculares, de modo que os músculos estáticos sejam alongados e fortalecidos modificando, assim, a atitude óssea deformada. Para isso, é importante a diferenciação entre a musculatura do corpo em músculos estáticos e músculos dinâmicos.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

A correção da postura proporciona a sensação de menos dor mais leveza.

Sabia que quanto maior for a projeção da sua cabeça para a frente maior é a força necessária para os músculos extensores da cervical a manterem (músculos da parte de trás do pescoço)?
Estudos biomecânicos estabelecem uma relação direta entre a posição da cabeça e da força exercida por estes músculos, havendo um aumento significativo por cada centímetro de anteriorização. Apesar de esta relação não estar comprovada, sabe-se que esse aumento da força muscular associado à posição menos correta dos segmentos da coluna cervical causa um maior desgaste e assim patologia musculo-esquelética mais precoce. Quanto mais estes músculos trabalham de forma mantida, maior é a sua tensão de base, levando à contratura e assim dor. Este tipo de dor pode localizar-se na região dos ombros, na parte de trás da cervical ou mesmo irradiar para a cabeça, provocando as conhecidas Cefaleias de Tensão (dor de cabeça com origem na tensão muscular e cervical).

Fruto do stress do dia-a-dia, das tensões musculares e fasciais, das más posturas adotadas e mesmo de fatores hereditários, é normal que o corpo adote posições inadequadas longe daquelas que seriam as posições anatómicas ideais para permitir uma maior durabilidade das estruturas do corpo. A isto acresce ainda os microtraumatismos normais no decorrer das muitas tarefas laborais ou nas atividades realizadas com mais frequência, como o desporto ou as tarefas domésticas. Os excessos de carga ocasionais e mesmo os erros alimentares e de hidratação também podem contribuir para as perturbações nas estruturas músculo-esqueléticas (micro-lesões) com a instalação de pequenos processos inflamatórios. A experiência clínica diz-nos que há ainda uma relação direta entre o stress, o excesso de responsabilidade, o excesso de preocupação e a tensão nestes músculos do pescoço. É por isso que muitas pessoas sentem que carregam o mundo aos ombros!
Cada vez mais chegam aos profissionais de saúde adultos, jovens e mesmo crianças com alterações posturais acentuadas que se não forem diagnosticadas e tratadas atempadamente, podem originar uma danificação progressiva das estruturas do corpo em regiões muito específicas e assim a instauração da patologia músculo-esquelética.
Como sempre, o melhor remédio é mesmo a prevenção. Ao computador, com o tablet, a ler, a comer, sentado a ver televisão, sentado no carro, a trabalhar….. adote uma postura adequada! É igualmente essencial praticar actividade física para colocar todos os músculos e articulações em movimento e assim compensar de alguma forma os erros do dia-a-dia. Tenha uma alimentação equilibrada, com boa hidratação, evitando a barriguinha volumosa que tanto prejudica a postura. As mulheres com o peito mais volumoso devem usar soutiens que aconcheguem bem e que libertem a pressão da cervical e dorsal alta (abaixo do pescoço).
Para saber se tem a cervical mais projetada para a frente basta colocar-se encostado a uma parede, com a região posterior dos calcanhares apoiada atrás e avaliar a distância que vai desde a cabeça à parede. Depois tente encostar a cabeça e perceba o que sente. Se tiver dificuldade e/ou dor faça uma avaliação com fisioterapeuta e um médico.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

RECONCILIANDO-SE COM O PRÓPRIO CORPO

Por Martha Medeiros para o Jornal ZERO HORA

Pratico exercícios desde sempre. Já dancei jazz, nadei, joguei vôlei, fiz aeróbica, musculação, mas nada disso me tornou uma amante da vida esportiva. O que me levava a essa movimentação intensa era a consciência de que manter uma atividade física enrijece o corpo e oxigena a mente, então eu ia em frente sem pensar em prazer. Era uma necessidade, e pronto.
Aos poucos, fui largando tudo e mantive apenas as caminhadas, essas, sim, não apenas saudáveis, como prazerosas. Poderia passar o dia caminhando, não tivesse que reservar um tempo para exercícios cerebrais, como trabalhar e fazer palavras cruzadas.
Parecia tudo bem, até que uma médica me disse: caminhar é bom, mas não basta. Está na hora de você suar o top. E me recomendou Pilates.
Modismo, chatice, tédio. Todas essas ideias me passaram pela cabeça, mas sou obediente, acato ordens, e me matriculei num pequeno estúdio a poucos passos da minha casa, conduzido por um casal de instrutores. Fui cair na mão dos melhores, posso apostar.
Em três sessões, já percebia mudanças no meu corpo, na minha postura.

Quanto ao tédio, bom, não há tédio na dor. Às vezes, me sinto como se estivesse treinando para me apresentar no Cirque du Soleil. Recebo ordens inimagináveis: grude o umbigo nas costas, encolha as costelas, encoste o queixo no peito. Já houve caso de instruírem um rapaz a contrair o útero! Dá vontade de rir, mas não convém, temos que nos concentrar na respiração. Juro, com tudo isso, ainda pedem que a gente respire.

Então, de volta aos exercícios sem prazer?

Pois aí está a novidade: o prazer é de outra ordem. O Pilates faz a gente mudar a maneira de pensar o corpo, o que deve ser a razão do seu sucesso mundo afora. Ao decidir praticar um exercício, muitas vezes ficamos condicionados aos benefícios externos de se estar em forma: a saúde é uma boa desculpa, mas a vaidade é que nos faz pagar a mensalidade da academia. Pois o Pilates supera essa visão miúda, adicionando à prática uma reflexão que vai muito além do desejo de ser admirado.
Quando somos adolescentes, sentimos nosso corpo como parte indissolúvel do nosso ser. Porém, com o passar do tempo, acaba acontecendo uma dissociação – à revelia, nosso corpo começa a nos abandonar, a nos deixar na mão. A pele vai se soltando, os órgãos internos armam rebeliões, as articulações gritam, rangem – não me peça para explicar, mas nosso corpo ganha vida própria, se emancipa e não nos escuta mais.
O Pilates é, antes de tudo, uma reconciliação com esse corpo que se tornou rebelde e fugidio. Ele sempre esteve a nosso serviço, mas pouco estivemos a serviço dele. Pois o Pilates, feito um cupido, faz com que nós e nosso corpo passemos a nos conhecer mais profundamente e a descobrir o que nem sabíamos um do outro, mesmo com tantos anos de convívio.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...