As novas teorias apostam mais na flexibilidade do que em modelos
de colocação “certa” do corpo.
“Não existe uma boa postura estática. Os estudos de ponta da ergonomia
dizem que a melhor postura é aquela em que você pode se mexer, se ajeitar”,
afirma a fisioterapeuta Maria Emília Mendonça.
Não quer dizer que não existam regras saudáveis de postura. “A gente tem
que saber se sentar direito, ficar em pé de uma forma boa. Mas o mais
interessante é ter um corpo que se modifica conforme a solicitação do momento”,
diz André Trindade, psicólogo especializado em psicomotricidade.
Trocar a perseguição de uma postura ideal pelo corpo possível tira um
peso das costas de muita gente. O que é ótimo tanto para o esqueleto quanto
para a mente, segundo o médico e psicólogo Saulo Cardoso.
Ele segue uma linha terapêutica desenvolvida pelo norte-americano
Stanley Keleman. De acordo com sua teoria da “anatomia emocional”, as áreas do
cérebro ligadas às emoções tanto regulam como são reguladas pelas regiões
responsáveis pelo controle motor e muscular.
A Folha não usa postura como sinônimo de atitude, mas, para muitas
pessoas, esse sentido colou à palavra. A causa pode ser a percepção de que a
organização corporal, as emoções e os comportamentos não andam separados.
ESTADOS EMOCIONAIS
“Postura nunca é uma coisa só física; é a forma como você se coloca
diante do mundo”, diz Mendonça.
Uma pesquisa da Unifesp confirmou isso. Cerca de 30 voluntários passaram
por testes padronizados para avaliar sintomas de depressão e de ansiedade.
Depois, foram fotografados em pé e sentados. As posturas foram analisadas por
fisioterapeutas.
Cruzando as informações, os pesquisadores descobriram que desvios
corporais específicos se relacionavam consistentemente aos estados emocionais
-por exemplo, cabeça projetada em quem estava ansioso, ombros elevados quando a
pessoa estava mais alegre e peito fechado nos deprimidos.
“Algumas coisas podem parecer óbvias, mas poucos percebem, porque as
alterações [na organização corporal] formam uma espécie de couraça muscular,
que passa a ser o ‘natural’, e a pessoa fica rígida naquela postura”, diz José
Roberto Leite, coordenador do departamento de psicobiologia da Unifesp, onde
foi feito o estudo.
Desarmar a postura e sair da rigidez é um canal para tentar manter “a
espinha ereta (ou melhor, flexível) e o coração tranquilo” -mas nem tudo é
simples assim.
“Às vezes, a pessoa tenta mudar seu corpo a partir de um modelo fixo e
acaba se engessando em outra postura dita como correta. Mas você tem que
trabalhar a postura na mobilidade. O que a gente pode fazer é ‘entrar’ na
postura, ‘sair’ da postura, entrar de novo”, diz a fisioterapeuta e professora
de dança Betty Gervitz.
Na vida real, mesmo quem é do ramo não consegue ficar certinho o tempo
todo.
“Conheço tudo sobre ficar bem sentada, mas, quando estava escrevendo
minha tese de doutorado, acabava desabando na cadeira. Mas sabia como
compensar, levantava, ativava os músculos”, conta Maria Emília, que é
professora de ginástica holística.
Ficar muito tempo sentado é o grande nó postural da atualidade. “O corpo
se constrói sob a ação da gravidade. Precisamos ficar em pé”, afirma Maria
Emília Mendonça.
Horas em frente ao computador criam uma cascata de efeitos no corpo e na
mente. Uma questão é o olhar. “Para ler na tela, fixamos o olho, e a tendência
é enrijecer o pescoço”, diz Mendonça.
O olhar determina a postura. No sentido literal, porque ao olhar para
frente a pessoa automaticamente alinha o pescoço e a cadeia de músculos e
articulações seguintes. E no sentido figurado, porque é preciso saber se olhar
para ganhar consciência corporal.
“A grande dificuldade de quem vai dançar é ter de se encarar no espelho,
reconhecer suas limitações. Mas é um jeito possível e prazeroso de descobrir
qual é a melhor postura para cada um”, diz Betty Gervitz.
Não precisa ser dança. Tirar a bunda da cadeira sempre é bom. “Quem fica
só sentado não usa os glúteos e não tem força de reação ao solo, que transmite
ao corpo as informações da força de gravidade. Isso deixa a pessoa meio
anestesiada. É forte dizer isso, mas amortece a capacidade de julgamento”,
acredita Mendonça.
De novo, variar posições é um segredo. Outro é lembrar que a coluna não
é o eixo de sustentação. “O que nos sustenta são pernas, pélvis, glúteos”,
afirma Mendonça.
Finalmente, relaxar é tão importante para a postura quanto o trabalho
muscular, diz André Trindade. “A gente quer movimento, descanso e variedade. É
o que o corpo e a cabeça precisam.”
Texto: Iara Biderman- Folha.com