
Gabo Morales/Folhapress
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IARA BIDERMAN
DE SÃO PAULO |
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Dor nas costas, barriga, sedentarismo? Seus
problemas acabaram: faça pilates.
A propaganda do método desenvolvido pelo alemão
Joseph Pilates (1883-1967) não é tão explícita assim, mas o pacote de
benefícios colou no imaginário popular.
O sucesso é explicado por uma feliz combinação de
fatores, a começar pelas qualidades da técnica. O pilates tem uma gama enorme
de exercícios, adaptáveis a diversas condições físicas e objetivos, que
organizam a postura e servem tanto para reabilitação quanto para a conquista de boa forma.
As qualidades foram incensadas por bonitos e
famosos, atraindo investidores do mercado da malhação.
Com o crescimento rápido, vieram os efeitos
colaterais. "Os estabelecimentos precisam de professores para 'começar
ontem' e os profissionais têm que estar prontos 'amanhã' para trabalhar. Aí surge formação por vídeo, curso de
final de semana...", diz Alice Becker, pioneira na formação de instrutores
no Brasil e uma das criadoras da Aliança Brasileira de Pilates.
No Brasil, a profissão não é regulamentada, mas há
padrões internacionais que servem para checar a qualificação do professor: ele
deve ter feito um curso de 400 a 450 horas, incluindo aulas práticas com os
aparelhos principais: trapézio, "reformer", cadeira e barril. Para
saber, só perguntando ao professor onde ele se formou e se informando sobre a
escola.
PÚBLICO DE RISCO
A formação deficiente é a primeira sombra no cenário
maravilhoso atribuído ao método. "Todo mundo quer fazer achando que é
indicado para tudo, sem avaliação, sem profissional habilitado. Esse pilates
malfeito vai acabar queimando o filme do bom pilates", teme a
fisioterapeuta Janaína Cintas, que tem especialização no método e em outras
técnicas.
Por enquanto, o potencial do pilates faz o público
apostar em suas vantagens. "O método é tão consistente que até quem não
tem boa especialização faz algum sucesso, mantém seus alunos. Mas isso pode
causar problemas", diz Alexandre Ohl, coordenador de pós-graduação em
pilates na Unip (Universidade Paulista) e professor da Bodytech de São Paulo.
O risco aumenta porque justamente a população com
problemas (dor na coluna, osteoporose, sedentária) é a mais atraída pelo
método, que tem sido usado e indicado para tratar a saúde.
A advogada Luciana Serra Azul Guimarães, 38, estava
havia cinco anos parada, com dores lombares. "Estava certa de que o
pilates era a opção ideal para mim", conta.
No primeiro estúdio em que foi, fez uma aula
experimental e só não começou a prática por falta de horários. Sorte dela: uma
avaliação com fisioterapeuta identificou que o seu problema seria agravado
pelos exercícios de pilates.
"O método é utilizado para tratamentos de
coluna, mas há casos em que pode aumentar a dor e agravar a lesão", diz o
ortopedista Bruno de Biase, do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Só depois de tratar seu problema com outras
técnicas, Luciana foi liberada para fazer pilates.
"A proposta do pilates é interessante, mas
começaram a oferecer mais do que podem dar: faça pilates e você não vai ter
mais dor nas costas, vai ganhar a flexibilidade de um bailarino e o corpo da
Madonna. As coisas não funcionam desse jeito", diz o fisioterapeuta
Leonardo Machado.
A educadora física Gisele Mukai e a fisioterapeuta Amanda Mota no estúdio Physio Pilates, em São Paulo
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